ASSOCIAÇÕES + MISSIONÁRIAS
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE
ARQUIDIOCESE DE SANTA CRUZ
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Mensagem das AM's e das
CEB's da Arquidiocese Metropolitana
de Santa Cruz – Dia da Consciência Negra
“Eu vi e ouvi os clamores do meu povo
e desci para libertá-lo” (Ex 3,7).
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20 de novembro de 2024.
1. Neste Dia da Consciência Negra, as Associações Missionárias e as Comunidades Eclesiais de Base da Arquidiocese Metropolitana de Santa Cruz se unem em oração e reflexão, com um olhar atento sobre a história, a cultura e a importância dos povos negros para a construção da nossa sociedade.
2. A Santa Igreja Católica, em sua longa trajetória, tem sido um real farol de luz, guiando os povos a uma verdadeira liberdade e dignidade. A abolição da escravatura no Brasil, encimada com a coragem e determinação da Princesa Isabel, é um marco que evidencia a profunda missão da Igreja em buscar a justiça e a igualdade, conforme os ensinamentos de Cristo. A Princesa Isabel, como católica fervorosa, reconheceu a necessidade de eliminar a escravidão, dando um passo decisivo na promoção da liberdade e da dignidade dos povos negros.
3. O compromisso da Igreja com a luta contra a escravidão não é novo, como expressa o Papa João Paulo II em sua encíclica Centesimus Annus (de 1991), ao afirmar que a Igreja sempre se opôs à opressão, à exploração e à injustiça, buscando a defesa dos direitos humanos de todos os povos, sem distinção. A Doutrina Social da Igreja nos ensina que a dignidade da pessoa humana deve ser reconhecida e respeitada, independentemente de sua origem, cor ou condição social. O Catecismo da Igreja Católica, em seu número 1935, declara que “todas as pessoas, sem exceção, devem ser tratadas com respeito pela sua dignidade e pelos seus direitos”. Esta verdade perene, que repercute no Evangelho, é a que fundamenta a postura da Igreja no combate a qualquer forma de escravidão, exclusão ou discriminação.
4. As Comunidades Eclesiais de Base, como pequenas células de evangelização e vivência do Reino de Deus, têm se dedicado ao serviço do pobre e do excluído, especialmente nas periferias, onde muitas vezes a população negra é a mais atingida pela injustiça social. O Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (de 2013), lembra que “a missão de evangelizar exige que nos empenhemos para que os direitos dos pobres e dos excluídos sejam respeitados e defendidos”. Nossas comunidades, portanto, devem ser espaços onde as pessoas se sintam amadas, respeitadas e valorizadas em sua totalidade, independentemente de suas origens e condições sociais.
5. Neste dia, queremos renovar o nosso compromisso com o acolhimento, a inclusão e a promoção da verdadeira liberdade que só pode ser alcançada através da vivência do Evangelho de Cristo. A libertação promovida por Jesus é aquela que vai além da liberdade física, tocando os âmbitos mais profundos da alma, que resgata a dignidade perdida e chama cada ser humano a ser plenamente realizado em sua identidade, como filho de Deus.
6. A Igreja, desde seus primeiros passos, tem sido defensora da dignidade e da liberdade dos povos. A Encíclica Rerum Novarum (de 1891), do Papa Leão XIII, foi um marco na aplicação da Doutrina Social da Igreja à realidade do trabalho e das relações sociais, defendendo a justiça para os trabalhadores, que na época incluíam, de maneira muitas vezes invisível, os negros e seus descendentes. A mensagem da Igreja é clara: ninguém deve ser reduzido à condição de escravo, e todos têm o direito de viver com dignidade e igualdade.
7. Em nosso compromisso missionário, as Associações Missionárias e as Comunidades Eclesiais de Base reafirmam que, como Igreja, não podemos nos omitir diante das desigualdades sociais que persistem em nossa sociedade. Devemos ser construtores de pontes, não de muros; ser promotores da justiça, não da indiferença. A luta pela liberdade e dignidade dos povos negros continua sendo uma missão permanente, e nós, como Igreja, devemos ser seus defensores, em diálogo com todos os homens de boa vontade.
8. Por isso, neste Dia da Consciência Negra, rendemos graças a Deus pela memória e contribuição dos negros na história do Brasil, pela coragem das figuras que se levantaram para defender os direitos dos oprimidos, como a Princesa Isabel, e nos comprometemos a continuar o trabalho de evangelização que dignifica todas as pessoas, chamadas à liberdade plena em Cristo.
9. Neste dia, também, não podemos deixar de prestar homenagem à memória de Dom José Luís Azcona Hermoso, bispo emérito da Prelazia do Marajó, falecido - providencialmente - hoje. Sua vida foi marcada pela defesa incansável dos direitos humanos, especialmente na proteção dos mais vulneráveis. No Marajó, Dom Azcona enfrentou ameaças ao denunciar o tráfico humano e a exploração sexual de crianças, demonstrando com sua coragem o que significa viver o Evangelho no serviço aos marginalizados.
10. Dom Azcona nos lembra que a luta pela justiça não é uma escolha, mas um imperativo do Evangelho. Seu testemunho desafia-nos a sermos Igreja missionária, comprometida com os pobres e excluídos, promovendo a vida e a dignidade onde quer que estejam ameaçadas.
11. Neste Dia da Consciência Negra, a Igreja convida todos os fiéis a se unirem em oração e ação concreta pela construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Este é o momento de promover iniciativas pastorais que resgatem a dignidade das populações afrodescendentes, reconhecendo suas contribuições culturais, sociais e religiosas na edificação da nossa nação.
12. Recordemos, por fim, as palavras do Papa Francisco: “Não podemos tolerar ou fechar os olhos a qualquer tipo de racismo ou exclusão e pretender defender a sacralidade de toda vida humana” (Fratelli Tutti, 86).
13. Que a Mãe de Deus e nossa, Maria Santíssima, Senhora Aparecida, interceda por nós, para que possamos ser instrumentos de paz e justiça, e que, guiados pela luz do Evangelho, possamos trabalhar pela verdadeira liberdade de todos, especialmente dos nossos irmãos negros, que com sua fé, força e esperança, continuam a contribuir para a construção de um Brasil mais justo, solidário e fraterno.
Em Cristo Jesus,
que nos une como irmãos
libertos pelo seu santo Sacrifício,
Mons. Henrique Gänswein
Assessor das AM's e das CEB's
Arquidiocese de Santa Cruz